quarta-feira, 29 de abril de 2009

Arco-íris, amores e efígies

Cardápio, paciente, loja com irmão mais novo, poema, casa, almoço, organização do quarto. A tarde já despedia-se quando findei meus afazeres.

De repente, não mais que de repente, ao observar o céu, notei uma mudança brusca de cores. Como se os deuses, em uma crise histérica, jogassem fora a aquarela que usavam há anos para pintar o céu, utilizando-se de uma totalmente nova e inusitada.

Nunca havia comtemplado um céu com estas cores. Nuances novas presentearam o cair da tarde que assemelhou-se à um belo amanhecer com fumaças, cinza, marinho, chuva e um belo arco-íris desenhado em todo o meu quintal.

O sol misturava-se a chuva. Creio que estavam apaixonados hoje e posso quase lhe assegurar que o nascente desse amor hoje foi minha casa. O arco-íris que marcava o nobre amor cortava por entre as jaboticabeiras florescendo em cores, transbordando em aromas, despertando amores.

Entretanto, meu coração está impenetrável a amores e pude observar o espetáculo sem o perigo de amar. Não que amor seja perigoso, mas o coração, hoje, entendeu que não queria um amor.

Há dias, de atmosfera muito mais simples, que o coração dilacera-se todo, implorando aos gritos por um amor. E não há. E espero, mas o amor não vem. Ninguém bate a porta apresentando-se assim: “Olá, sou seu novo bem querer.”

O infeliz e muito amado do meu coração tem dias e dias. E eu, dona inpotente, nunca posso lhe interferir nas decisões. Os perfeitos são perfeitos demais para ele; tornam-se chatos. Os imperfeitos não lhe agrada o nariz; tornam-se indelicados. Os estranhos são perfeitos; até as estranhezas dele cruzarem-se às minhas e ficar tudo insustentável. Os normais são insuportáveis de nascença.

E assim, rege-se uma orquestra, um tanto quanto desafinada, mas ainda assim feliz. Pois orquestra de amor feliz é só quando se ama o desconhecido. Amando uma efígie consegue-se amor do mais perfeito. Amar por todo um ser humano inteiramente conhecido é quase impossível. Amar o desconhecido, o intocado… Ah! Como o intocado é amado pelo meu coração. Dificuldades geram desejos crescentes.

Sabe, acho que todos os que eu e meu coração louco amamos foram desconhecidos. Eles, em sua vã inocencia, apresentaram-se a mim, entretanto, quando o fizeram, eu, já tinha sua efígie com todas as características por mim escolhidas definidas. E a essa efígie que amei verdadeiramente!

Madrugada de 18/04/2009