quarta-feira, 24 de novembro de 2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Vazio

Primeiro veio o vazio. Se instalou ali quietinho naquela órgão que as pessoas quase não usam.  E foi crescendo, alimentando-se daquelas lembranças sem fundamento e do presente sem ter do que. E cresceu todo manso, sem parecer atrapalhar na vida dela.

Mas ele era o vazio e como era de se esperar, tornou-se insustentável. Ela procurou preenche-lo da melhor maneira possível. Andou ruas e esquinas atrás de alguém para preenche-lo e não encontrando, descobriu que boas cervejas e boas risadas com amigos supriam, mas não acabavam com o vazio.

E se querem um bom final feliz, haverão de procurá-lo em outro conto, porque aqui vem o final: ela aprendeu a conviver com o vazio sem parecer tão louca, mas dentro do peito ele lhe consumia dia a dia. Enquanto isso, ela esperava na janela pelo causador de todo o vazio que a devastava, entretanto sem resposta.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Do eterno e sempre amor

Quando seu cheiro – vindo do céu – encosta no meu nariz de novo, milhares de reações são desencadeadas em cada pedaço de mim. Há no seu cheiro algo que me faz ter a sensação de ser completa e para sempre. Qualquer substância ali que me faz pensar em amor pela manhã de beijo morno, amor de lua cheia, amor de desejos pequenos que me fazem grande, amor de corpos cansados e sorridentes.

Maldade é meu nariz ficar sem o seu, já que ele não sabe querer outro. Maldade é o vazio em que bate meu coração, numa nota decadente que nunca chegará a ser canção sozinha. Maldade é acordar sozinha na cama gelada, sem sua respiração – aquela que me arrepia – em minha nuca. Maldade é não ter aquele abraço do meu tamanho, segurança diária que eu precisava pra viver. Maldade é minhas bochechas não ruborizarem mais porque não tem mais  estimulo dos seus olhos parados nos meus. Maldade é essa saudade enorme que eu sinto e que não tem data pra parar de sentir.

Preciso falar que eu sinto sua falta ou a tatuagem com os dizeres nas minhas costas já o bastam?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

É o abandono de não ter mais aquelas mãos. De um olhar que não mais olha pra você. O abandono de uma boca que há tempos se perdeu em outra.

De abandono, lhe entreguei meu coração e você guardou na gaveta com um monte de bugigangas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

domingo, 26 de setembro de 2010

Do prazer

Ela dormia no sofá quando ele chegou. Estava lá desfalecida, um livro caído sobre o ventre, uma música minimalista enchia todo o ambiente com suavidade. Uma chuva leve era denunciada pelos pingos nos cabelos dele ao chegar.

Ele notou que ela dormia, chegou-se quieto, sem fazer ruído algum. Abaixou-se ao seu lado, retirou o livro que lhe pesava sobre o ventre, era um livro de poesia, colocou-o sobre o chão. Ficou ali parado olhando a dormir, como era linda! Os cabelos louros desalinhados na almofada, a pele alva levemente descorada, os seis pequenos quase aparecendo, pois a camiseta lhe caia os ombros, as coxas fartas deixando-se mostrar na saia rodada de algodão. Ah, como ele a desejava, como ele a amava.

Ela nem se mexia, não havia notado a presença dele ali, ajoelhado ao seu lado, olhando a com um carinho imenso. Ele pensava enquanto acarinhava os cabelos dela: “Será que ela sabe que estou aqui? Será que sonha comigo agora?”.

Largou os cabelos, passeando pelo seu colo, barriga e seios. Deslizava a mão pela sua roupa demoradamente. Ela de repente se mexeu. Acordou-se, quase ia se assustar quando o reconheceu. Ele a beijou demoradamente como que confirmando que realmente era ele, não era sonho dela, não era ilusão.

Ela tão logo notou que o desejo dele por ela, instantaneamente dentro dela acendeu-se uma chama de vontade incontrolável. Ele, como bom observador que era, percebeu e continuou a acariciá-la.

Ela o olhava com amor e excitação enquanto ele passeava por seus seios e beijava-lhe o pescoço. Ela o puxou, lhe deu um beijo quente e uma mordida no pescoço. Ele continuou perdendo-se nela, levantou-lhe a blusa e descobriu seus seios desnudos, róseos e macios; acariciou-os por algum tempo sem pressa como quem faz algo pela última vez. Depois os beijou e lambeu, sugando-os como se fossem o mais doce mel da terra.

Voltou a beijá-la, ela se contorcia de prazer e soltava gemidos abafados pela música da sala. Ele descia pelo seu ventre, ora beijando, ora acariciando, ora mordendo; chegando em pouco tempo as coxas, perdeu-se ali. Apertava com tamanha vontade que a pele dela ficava avermelhada.

Ela o olhava com a feição de criança que quer o doce logo. Ele sabia disso, mas não lhe daria sua recompensa rapidamente. Passava as mãos pelo meio das coxas, ela segurava as mãos dele levando-as até o meio de suas coxas, mas ele desviava. Beijaram-se novamente.

As mãos dele escorregaram pelo meio de suas coxas e ele acariciou-lhe o sexo por cima da calcinha molhada. Ela estava em êxtase, parecia ter sido transportada a outro planeta e a excitação dele aumentava à medida que ela gemia.

Abriu caminho pela calcinha, chegando ao clitóris dela. Ali brincou como criança, ria-se satisfeito ao ver o rosto dela mudar de expressão por conta do prazer. Deixou os dedos passearem, sem pressa. Parou, beijou-a. Faltava pouco para que ela lhe implorasse que continuasse. Ele não continuou. Escorreu o corpo dela até chegar à vagina, tirou a calcinha com a boca e ali deixou cair seus lábios e língua afoitos.

Bebeu do prazer dela, sentiu o calor, deu-lhe prazer inimaginável. Ela contorcia-se mais e mais, gemia, respirava com dificuldade. Ele estremecia de prazer vendo-a quase ter um orgasmo.

Quando ela estava prestes a chegar ao auge, ele escalou seu corpo quente chegando à boca, beijou-a demoradamente, ela lhe arrancou a camisa e boa parte das costas com as unhas. Abriu a calça afoita, sentiu a respiração quente dele no pescoço e sussurros ainda desconhecidos no ouvido.

Beijou-lhe os seios novamente e delicadamente penetrou-a como se fosse virgem. Enquanto sentia o encontro perfeito de seus sexos, beijava-lhe o pescoço, orelhas e colo. Ela lhe abraçava forte – e cada vez mais forte – apertava-lhe os cabelos, puxava-o para perto como se quisesse que ele se fundisse a ela.

Ambos sentiam o prazer crescer junto, multiplicando-se em cada movimento. O suor escorria-lhes a face juntando-se com a saliva e a excitação. Ela gemia, contorcia-se como se fosse de pano, beijava-o e mordia-o. Um gemido conjunto surgiu mais alto que a música que tocava na sala, havia chegado ao orgasmo juntos, naquela mesma velha cumplicidade que sempre tiveram.

Ele caiu desfalecido nos braços dela. Ela ficou docemente lhe afagando os cabelos e beijando-lhe a testa empastada de suor. Ele lhe falava do quanto esperava por esse momento de novo.

Enfim, adormeceram e só as paredes sabem por quanto tempo e se aquilo tudo virou rotina ou voltaria a ser apenas uma lembrança para ambos.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Do fim

Ela fez as malas. Desfez os sonhos deles. Largou o sorriso largo em cima da cama. Escorreu as lágrimas até a porta. Levou o cheiro dele no cabelo desarrumado. Lentamente abriu a porta. Não olhou pra trás. Não olhou para os lados. Não olhou. Fechou os olhos e suspirou. Partiu como quem nunca volta - porque nunca chegou deveras.

Ele olhou a cena atentamente. Quis correr, mas os pés estavam imóveis. Quis abraçá-la, mas os braços não alcançavam. Acendeu um cigarro e observou. Olhou os cabelos nas costas dela desgrenhados. A blusa desarrumada, colocada às pressas. Sentiu que a ponta do cigarro aceso queimava-lhe o coração. Sentiu pena. Sentiu dor. Sentiu nojo de si mesmo.

Ela saiu andando lentamente. Trazia o coração dilacerado no peito. Não pensou. Quisera nunca ter amado. Pensou em acabar com a vida. Sentou-se num bar. Bebeu. Chorou como criança que perdeu-se dos pais no circo. Paralizou-se de medo da vida sem ele. Mas não ía voltar. Nunca.

Ele observou a porta sendo fechada. Observou o vazio que tomou a casa de repente. Sentou-se no chão. Acariciou o pêlo do cachorro com desdém. Pensou em sair pra procurá-la. Desistiu em seguida. Sentou-se no chão. Chorou por horas. O coração tinha a dor mais lancinante que já havia sentido. Não ía mais amar. Nunca.

E isso não era uma maldição jogada sobre os dois. Era apenas orgulho de ambos. E o amor, assim, definhará aos poucos, até nunca mais existir.

sábado, 31 de julho de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Viagem antropológica

E sem saber invadíamos o território daquela gente que vive diferente da gente. A situação era a mesma dos dois lados da pista de dança imunda e cheirando a mofo, mas elas eram percebidas de maneiras muito diferente pelos personagens.

De um lado, estávamos eu e minha amiga, velhas órfãs do rock e dos barzinhos com gente "esquisita" e das noites de chorinho e bossa nova e das noites no teatro. Ambas sentadas, escoradas na mesa, aquela velha cara de quem está deslocada do mundo, os cabelos já desgrenhados, o cigarro aceso soltando fumaça no ar em forma de desenhos mal definidos, meu copo de plástico com cerveja, o dela com conhaque presidente e coca-cola. Conversávamos sobre coisas quaisquer e fazíamos uma análise da situação, isso depois de muito falar das nossas desilusões amorosas, venturas e desventuras, dos amores de longe e blá blá blá.

Do outro lado, duas meninas também sentadas alegremente conversavam, eram diferentes e isso era notável. As roupas eram diferentes, o sorriso não era amarelo, tinham os copos cheios provavelmente de cerveja (a luz no local era fraca), riam sem preocupar-se com nada, cantavam com a banda, dançavam, mostravam-se para os garotos.

Elas estavam no seu lugar com as suas pessoas, nós éramos duas estranhas no ninho tentando não chamar atenção.

Da viagem antropológica ficou a sensação de que eles vivem melhor do que a gente. Uma coisa ficou mais clara do que nunca: a ignorância é uma dádiva. Quisera eu não preocupar-me com as próximas eleições também, mas para quem saiu da ignorância nunca mais é possível retornar. Fato é que a diversidade é algo que encanta.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Poema do dia

Acordei. Ainda estava frio.
Tomei café. Amargo.
O sol sorriu pra mim.
Senti saudade sua.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

- Então você pode cantar para eu dormir, mas não pode ficar do meu lado enquanto eu durmo? É isso?

- É, faço-lhe dormir com todo amor que tenho, mas assim que pegar no sono, partirei e não sei quando regresso.

- Certo! Ficarei acordada durante toda a noite. Terei os olhos pesados e cansados pela manhã, mas lhe terei ao meu lado.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Livros espalhados por todo o chão do quarto. Infinidade de letras, pensamentos, teorias, amores, guerras e estórias. Apanho um sem nem ao menos ligar para o título. Não é o que eu estava lendo. Leio alguns trechos, nada. Tento outro, poesia. Leio uma estrofe qualquer sem notar que comecei pelo meio do poema. Arrepios, saliva na boca aumentando, mãos trêmulas. Não é o livro, não. É a recordação que ele carrega. Sinto seus poros nos meus dedos, seu cheiro espalhado no meu sexo, sua boca grudada na minha. Fecho os olhos, deliro, calo-me pra sentir sua pele branca na minha. O mundo lá fora já não tem mais tempo, não tem mais cor, não tem mais desejo. Está tudo aqui entre meus dedos e aquelas letras, entre meus sonhos e sua chegada, entre meu desejo e as palavras que sussurra no meu ouvido, entre o amor que lhe dou e o que me retribui, entre o meu desejo e o seu me chamar de sua bitch, entre o sexo até adormecer e o ao acordar, entre a madrugada que passo virando na cama procurando seu cheiro e aquela que você esperou acordado que eu adentrasse a porta. E você está longe. Descubro. Contorço-me, morro de dores sem origem certa, caio no profundo tédio e solidão, mãos gélidas como o vento lá fora, sem calor humano, sem seu calor tão bom, sem seu abraço do meu tamanho.

Uma coisa pra você, meu bem: seu lugar na minha cama ainda está guardado.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O zumzumzum da vida que nem me deixa pensar. Nuvens passando, pessoas zumbizando, gato miando, cheiros de enojar.

As coisas acontecem tão rápido e tão junto que, caso esteja mais desapercebida, nem noto aquela formiga carregando o grão de açúcar, nem escuto quando me sussurra a distância no ouvido coisas de me deixar vermelha, nem vejo aquele belo céu cor-de-rosa de final de tarde, nem sinto seu beijo tímido na minha nuca.

Parando, pensando, sentindo, sem respirar. Vou ficar bem quita pra aproveitar os pequenos prazeres mundanos.
O chocolate amargo derrete na boca causando um prazer inexplicável.

Quero alguém que tenha sabor de chocolate pra ficar sentindo derreter na boca infinitamente.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Acordei com a doce lembrança do seu rosto. Seu gosto ainda escorrendo pela boca, meus dedos ainda com as suas impressões.Havia seu cheiro nos meus poros, nos meus cabelos, lençóis e até no ar que adentrava minhas narinas.

E você continua longe. Alguém me explica agora? Como é que se acorda com lembranças nunca vividas? Como é que se sente saudade de alguém cujo cheiro meu nariz desconhece?

Acordei tão bem, estou tão bem e aquele sorriso bobo fica pregado na minha boca o tempo todo.

Só queria chegar em casa e te encontrar ainda adormecido na cama. Acordar-te com um beijo e perder o restante do dia ali com você.

quarta-feira, 9 de junho de 2010


O coração bate trêmulo, descompassado de pura e original solidão. A mente é inebriada por uma sensação de perda extraordinária.
Mas o que haveria de ter perdido se nunca nem ao menos o teve? Ele sempre foi ilusão e ela fora avisada pelos lábios dele disso. Mas como ele é malvado, contou-a quando ela já estava envolvida até os fios de cabelo, quando o coração dela já batia no compasso da respiração dele.
E quis ser doce e quis não machucá-la e fez tudo, tudo errado, com a melhor das intenções. Seria doce se ela nem o conhecesse, se ele nunca a tivesse pedido em casamento, se nunca tivessem se envolvido, se ele não esperasse anos e anos para contar que a enganara desde remotos tempos.
Ela estava em estado de torpor, mal respirava. A única coisa que compreendia do que lhe acontecia à volta era a dor lancinante que sentia no coração acuado. Não falava, não pensava, não entendia o porquê da dor, não entendia o porquê do ciúme, não entendia em que momento da vida passou a amá-lo (nunca lhe sentira o cheiro, poderia nunca amá-lo tranquilamente).
Mas ela sempre gostou do impossível e desconhecido, enjoava-se fácil do que lhe era conhecido em demasiado e simples.
A dor dele sempre fora dela. E agora, haveria de aprender a conviver com a solidão que lhe apertava o coração e o deixava com um vazio de doer.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A sensação é toda estranha. Há aquela leveza acompanhada de uma dor profunda, tão profunda que nem sei em que parte do coração é formada e disseminada. Os olhos permanecem marejados de lágrimas o tempo todo e ao menor descuido do pensamento, elas escorrem sem vergonha alguma. O corpo todo está amolecido, os dedos tremem, as pernas não conseguem firmar-se, o pensamento esquece-se em qualquer esquina - sem querer pensar em nada, nada.

Só uma oração acalma tudo, só assim vem o descarrego de consciência de que é a melhor coisa a ser feita no momento (e não é a melhor coisa a ser feita em todos os momentos?).

O coração se enche de luz e tenho a certeza de que a luz que produzo, por menor que seja, chegará até você e lhe será caminho na escuridão do esquecimento (porque desconhecido não é) e lhe será confortado o coração e poderá permanecer em paz a olhar por nós.

Guardarei seu último sorriso e suas últimas palavras. Ah, estava tão linda e tão serena. Ali, em seu leito parecia não tomar conhecimento da terrível doença que lhe acometia e consumia pouco a pouco as vísceras e a vida corpórea. Com toda a dor, com toda a fome, com toda a sede (nada mais poderia ser feito quando descoberto), trazia a face serena e um sorriso frouxo de criança. De criança que brinca e não tem preocupações.

Partiu em serenidade e assim há de permanecer. Não vi, nem faço questão de ter as lembranças do seu corpo já sem vida, seu espírito - que não era daqui - voltou alegremente para o lar, com a certeza de missão cumprida.

Segue o teu caminho na paz daquele que é nosso Pai. Leve minha oração consigo e boas lembranças. Até um dia.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Quando ele descobriu Deus e decidiu como plano de vida ter o coração puro e amar acima de qualquer coisa, meu espírito se engrandeceu e lotou-se de luz. Uma alegria suprema e duradoura penetrou-me os poros causando arrepios infinitos. Uma leveza de amolecer as pernas, de tremer dedos que quase não conseguem digitar tomou conta do meu corpo físico porque meu espírito inteiro estava grande.


Porque Deus me encheu de amor e este amor de nada vale dentro de mim. Eu o divido porque assim estou multiplicando.

Espalha teu amor como eu faço com o meu e me fará feliz.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ele sempre bate na minha porta. Finjo que não estou, desligo tudo, fico muda, mal respiro para fingir estar longe, mas ele espera. Eu fico me escondendo o máximo de tempo, mas a insistência dele é maior que a minha paciência para fugas e esconderijos.

Abro a porta. Ele ainda tem os mesmos olhos caídos de que me lembro, a face marcada pelo tempo sem perder entretanto a juventude de ser sarcástico, as mãos amareladas e trêmulas que firmam-se ao apertar as minhas.

Ali, parado na minha porta ele me olha com um sorriso de "sabia que você estava aí, sabia que abriria, você não resiste a mim". Vendo esse sorriso fervo de ira, mas o coração bate mais e mais alegre e descompassado. A razão não gosta dele, a emoção ama-o fervorosamente.

Eu já estou impaciente de vê-lo ali sem entrar. Ele não entra, espera, a paciência é sua mais notável qualidade (deve ser pelo tempo que tem). Abro mais a porta e lhe digo:

- Entra passado, já sabe onde é a sala. Sente-se lá que já levo o chá.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Não vou decorar frases feitas pra te reinventar. Do jeito que existe em mim é como permanecerá para todo o sempre.

Como uma primeira brisa de outono, assim é a recordação que guardo. E sabe-se que os ventos - desde os mais leves até os mais tempestuosos - são meus mensageiros confiáveis e fiéis.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Viu? O céu estava lindo do tamanho do seu sorriso esta noite.





Dormirei contanto estrelas.

Já que não tenho seu sorriso.

domingo, 18 de abril de 2010

- Você é o que sobrou do céu?
- O céu acabou, então?
- É, acho que dele só ficou você.
- O céu não acabou e nem eu sou o que sobrou dele.
- Mas você é o céu pra mim ou qualquer coisa divina.
- Eu sou teu céu.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ele sempre chegava com o mesmo sorriso instantâneo. Por muitas vezes cheguei a crer que ele ensaiava o sorriso demoradamente na frente do espelho. Era perfeito aquele sorriso, era igual sempre, era como olhar pra fotografia.

Trazia consigo os olhos perdidos que tão logo me viam e encontravam-se. Seus olhos eram perdidos do mundo, mas encontravam-se nos meus e na minha pele e no meu cabelo e no meu cheiro. Os meus só brilhavam e perdiam-se (ao contrário dos dele) nele.

O abraço era o mais quente de todas as estações. Aconchegante, do meu tamanho, da minha vontade, do tempo que não contávamos quando estávamos abraçados. As mãos, de tão leves e sorrateiras, mal notava-se e já estavam a brincar com os cabelos ou acariciar a nuca.

Do beijo que ele tinha, do beijo que era tão meu e tão nosso e tão perfeitamente do tamanho dos nossos desejos, só conto-lhes que era pra esquecer do céu lá fora e contar a população mundial em dois apenas.

Das horas na cama, dos suspiros, da falta de fôlego, dos dedos, do sexo, dos cabelos, da barba, do suor, da saliva, de deitar no seu colo e não pensar em nada ainda ofegante, do caminho até ficarmos ofegantes, das tatuagens, do banho morno, do fim, do recomeço, da sua luxúria tão minha; não há mais o que comentar, apenas digo, sinto arrepios consumindo meu corpo enquanto escrevo este.

Do colo, de conversar, das horas de saliva gastas em conversas, da orelha quente no telefone, dos filmes, das saídas para seu remédio, das madrugadas com 32 horas de duração, da saudade, da cumplicidade, das festas, da sinuca, da parceria, da cerveja, da timidez, do início de tudo; fica uma vontade de voltar no tempo extraordinária.

Revivendo ele assim e como ele chegava e como ele (me) era chego a apenas uma conclusão: ele é perfeito demais pra existir.

Quem dera saber desde sempre que foste delírio meu. Entretanto, não há prazer maior do que ter lhe inventado (deveras o fiz?)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

As pessoas tem verdadeiro fascínio em banalizar as coisas. Até o amor já está banalizado. A maior dor de todas é ver que o amor já é tratado como coisa qualquer, pode até ser comprado caso você seja mais abastado.

As pessoas nunca entenderam de amor, vivem confundindo o amor com essas paixões cheias de carne.

O amor não é assim. O amor é eterno. O amor é leve e belo. O amor é a melhor sensação que há. O amor é puro. O amor é divino. O amor é iluminado e nada tem do desejo da carne efêmero.

Por isso entenda, se lhe disser que te amo é pra sempre e é fato, porque o meu amor não foi banalizado.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Das lembranças que o frio traz, separei as melhores. Separei os beijos em lábios trêmulos, separei os poemas, separei as músicas pra sonhar, separei fumaças de cigarro e café.

Das lembranças indesejáveis, fiz o cálice onde coloquei meu vinho, junto dele bebi teu sorriso e o meu prazer em vê-lo sorrindo.

sábado, 27 de março de 2010

A maquiagem toda borrada ressaltava as cores dos meus olhos tão vivos. Acordei como deveria ser. Nos meus dedos escorriam sonhos e aventuras. Ou melhor, aventuras sonhadas.

Na leveza de amanhecer o dia pela metade, senti uma ponta de saudade de não sei o quê. Como se algo que nunca precisei me fizesse tanta falta.

O frio, o cinza e seu cheiro no meu peito. Sim, descobri! A saudade que sinto é sua. E é fato, não preciso, mas sinto falta.

Você é pra mim, algo que me mantém presa em um lugar onde nunca quis nem estar. A raiz já é tão profunda que é difícil cortá-la, especialmente porque um dia resolveu arraigar-se ao coração. Cortá-la significaria a morte. Não a morte física, mas a morte do amor meu e isso é irreversível.

Quando um amor tido como único e belo morre, nunca mais poderá haver outro amor para tomar seu lugar.

Então, não me deixe, volta, porque a beleza do amor depende de dois lados, não de um sozinho.


Ne me quitte pas

terça-feira, 23 de março de 2010

E, assim, no teu corpo eu fui chuva.

Cantou assim Maria Gadú para mim. Eis a nova fantástica descoberta musical. E como ela escreve e canta o que eu sinto, deve ter conversado com Nando Reis para fazer as músicas.

Na chuva linda que presenteou meu dia por horas, foi nisso que pensei. Eu sou chuva no seu ser. Eu sou chuva no meu infinito tão incompleto. Eu sou chuva na minha saudade tão sua. Eu sou sua chuva de horas ociosas.

Mas eis que ela canta no passado. No meu e no teu passado mais-que-perfeito. Porque o presente tem conjugação desconhecida, só conjugo agora o verbo chover em você e me encher de você até estourar, até transbordar.

Sou sua chuva até a última gota existir.





Deixa eu me transbordar de você.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Foi você que me ligou? Foi você? Você?
(o coração bate grande)

E agora não atende. E eu fico agoniada, louca, desesperada, esperançosa.
(o coração quase não bate)

E ainda pode não ser ninguém! Ninguém! Ninguém que me interesse, ninguém que me faça sonhar.
(pensando na sua voz)

Não vou nem tentar mais, nem queria falar com você.
(mentira deslavada)

Se você ligar de novo eu atendo.
(se é que foi você que me ligou)

Não queria falar com você.
(e isso é uma meia verdade).

Liga de novo, vai.
(quero dormir com sua voz no ouvido)



domingo, 21 de março de 2010

Deixei-me cair suave e lentamente na cama desarrumada. O calor do dia enfastiou-me até os pensamentos. E a noite não me reservou nada de tão extraordinário.

Ali, do jeito que caí, permaneci a olhar para o teto, enquanto a doce melodia de Bob Dylan me fazia pensar em terras mais distantes que essa. Terras além do meu jardim, além do meu céu, além do meu ser.

E o que quero eu com terras distantes? Descobrir um novo sentimento ou um novo sol. Quero é pessoas que estão em terras distantes. Mas talvez essas terras nem existam além do meu mundo imaginário.

Como saber o que é real e o que é imaginário quando o cérebro mal funciona de tanto cansaço? Como saber por quê as pessoas que estão em outras terras me encantam mais do que estas?

O melhor seria pegar no sono logo, mas ele não vem. A mente ainda quer pensar mais, quer imaginar até conseguir desenhar cada detalhe de seu corpo nu com a realidade de conseguir tocá-lo. Mas as lembranças são antigas e isso não acontece. Não consigo mais sentir seu corpo, nem suas mãos na minha nuca, nem o gosto de sua boca.

Estranho, aí estão coisas que imaginei nunca parar de sentir. Lutei tanto para que isso acontecesse e agora descobri que era isso que mantinha meu coração cheio. Agora ele está vazio e escuro. E meus dedos não sabem mais o caminho que devem tomar para viver sem você.

Fato é que as estrelas que queimam no meu quarto são desejos de ter seu corpo no meu.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Desliguei o relógio. Quis desligar os ouvidos e a mente, porém não tive sucesso. As pessoas falavam, faziam barulinhos que me atormentaram pelo tempo que não sei.

Todas aquelas palavras decoradas, tudo aquilo que eu já sei e que não preciso ouvir novamente. Tudo acontecia ao meu redor e eu queria estar longe, pensando noutras coisas. Mas era obrigação - brindes que acompanham o cargo público - estar ali naquele lugar e ouvir atentamente pois minha opinião poderia ser cobrada a qualquer momento, poderiam duvidar do meu trabalho.

De fato isso aconteceu, estive atenta, defendi meu trabalho, defendi aquilo que as pessoas já sabiam, mas acham ainda que você tem que fazer uma mágica para que funcione. Pronto: Está feita a mágica, agora todas as crianças comem frutas e verduras. Agora o repasse para a alimentação escolar dobrou. Agora a pobre da nutricionista vai arcar do próprio bolso o que faltar para a merenda. Ê, viva a utopia.

A minha parte, eu faço. Faço com amor, com desvelo, faço porque gosto e ponto. E ah, ninguém lembra - fingem esquecer - de que estou no trabalho há apenas quinze dias, ninguém revoluciona nada neste tempo. Não há como resolver problemas antigos em tão pouco tempo.

Amanhã é um novo dia e muito trabalho existe para ser feito. Arregaço as mangas da camisa, dou minha cara a tapa e os ouvidos a críticas (mas já aviso, só escuto as construtivas) e vou lutar para a alimentação das crianças ser - pelo menos em horário de aula - um pouco mais saudável.

E que assim seja.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Hoje acordei de mal jeito. Talvez porque não dormi deveras ou pelo menos meu sono não cumpriu o seu dever: dormi sem repousar, sem que a mente parece de trabalhar.

Acordei com mil pensamentos mastigados da noite e nada digerido. Tão logo os pensamentos - que não deveriam existir - noturnos misturaram-se com propósito aos pensamentos do dia. E quente como o sol minha cabeça trabalhou e trabalha ainda.

Poderia apenas pensar no trabalho, mas só ele não me satisfaz. Poderia só pensar no mundo, mas o que faria com as responsabilidades? Poderia só pensar no amor, mas para isso, precisaria ainda estar dormindo.

Ao acordar, a primeira percepção foi a de não ter percepção nenhuma sobre o dia nascente. Cansada de tanto pensar quando deveria sonhar com o impossível ou permanecer dormindo sem pensamentos.

E lá passou-se o dia, escorrendo como lágrimas que tentamos segurar. Ora rápido, quando eu implorei pra ser devagar. Ora lento, quando eu implorei que o relógio corresse.

Somos todos servos de um tempo que não liga para nossos sonhos, pensamentos ou vontades. Não liga para a responsabilidade, nem para a diversão. Escravos de um tempo que conta como quer, que zomba de nós por capricho.

Mais do que escrava do tempo, sou escrava dos meus próprios pensamentos que fazem de mim o que bem querem, sem me deixar descansar. E ainda, sou escrava de um coração que amou uma vez e acha que é pra sempre.

Só me falta fazê-lo acreditar no fim das coisas. E conseguir amarrá-lo toda vez que ele quiser ficar olhando pela janela esperando você voltar (certeza dele).

segunda-feira, 15 de março de 2010

Tem dias que o dia passa lento e cheio de pensamentos tolos. Isso definitivamente não acontece em dias de sol e de licitação. A burocracia e o queimar do sol na minha pele branca não me fazem bem.

E nessa noite sonhei com você. Sonhei que me acordava pela manhã com seu cheiro no quarto, com sua boca tão rósea, com seus olhos tão esmeraldas. Acordei e só o cheiro ficou guardado em minha pele durante o dia todo aumentando as lembranças que nunca foram passado.

Passei o dia com seu cheiro e a adrenalina do baile/jogo Santos e Palmeiras. Ah, pra quem tem um jogo desses, o amor nem faz falta. Amor de futebol é sempre mais gostoso, fiel, leal e ainda dura eternamente (sendo correspondido).

E ainda existe quem tem medo. Medos são bobeiras, gostosa é a ansiedade de vê-lo (novamente), gostoso é o gosto de esperar pelo dia que acordarei com o dono do cheiro ao meu lado na cama. Gostoso é ver meu time jogar contra o seu (de novo) e discutir e brigar e se odiar, para depois ficar bem da melhor maneira que posso imaginar. (6)

Já sei, perderei horas ali, olhando ele dormir.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Ah, o abandono. Abandono deste blog, abandono do corpo cansado sobre a cama, abandono do amor que não se deve ter, abandono dos cabelos para o vento do alvorecer.

Deixei-me abandonada e tão logo o mundo me abandonou. Abandonou-me de suas garras, de seus laços, de suas cores.

Corro os dias sozinha, sem pensar em muito além do trabalho, da alimentação e de todos aqueles números que eu já decorei. Sozinha, abandonada, deitada na cama olhando as estrelas que não tem no meu teto branco-dia e negro-noite.

Não posso mentir que se estivesse comigo, seria só nos seus braços que eu me abandonaria do mundo. Seria no teu colo que abandonaria meus problemas e no seu sexo, abandonaria minhas tensões diárias.

Deixa eu me abandonar na água que escorre dos seus olhos.

Vem, que eu perco meu tempo com você.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Apeguei-me novamente ao que jamais deixei de ser apegada. Reencontrei meu sol e sua lua juntos como só eles podem ser. Ah, como invejo aquele colar! Não ser possível uma troca? Separam-se a lua do sol e nós é que ficamos juntos para todo o sempre, como de fato deveria ser.

Devemos ter pecado muito em outras vidas tamanha a maldade para ambos que é nos manter separados. E pior, poderíamos nem sequer nos conhecermos, mas não, nos conhecemos e como era de se esperar nos apaixonamos tão logo. Então chegou o senhor de todas as escolhas e nos separou, escolha minha e sua, erro nosso e voltar atrás já não era mais possível.

Essa noite não venha visitar-me em sonho. Não quero ter um motivo maior para continuar te amando, te querendo, te desejando desesperadamente.

Durma em paz que eu farei o mesmo, farei preces para que tenha boa noite. E um dia - e esse dia chegará - estaremos juntos, como nunca deveria ter mudado.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Já é noite novamente. O dia derramou-se como mel recém retirado e acabo de notar que hoje não me dei conta das horas que passaram sem perdão (como é natural).

O carnaval despede-se do povo todo deixando confete e serpentina espalhados no chão da rua e lembranças na mente dos foliões, tanto nos que de fato "fizeram folia" quanto esses como eu.

Amanhã haverá de amanhecer novamente. O mundo de ressaca, o céu à vomitar nauseado de vulgaridades e futilidades. A pobre terra toda suja, toda pisoteada. Mas que se vá tudo mesmo, já é tarde.

Será que ao próximo amanhecer terei novamente seu cheiro pelo quarto? Enfim, venha me visitar, mesmo que em sonho de carnaval.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Pensamentos latentes, loucos. O cérebro divide-se entre as idéias novas para os velhos e os novos projetos e aquela maldita música. Não apenas uma música, uma madrugada inteira, uma eternidade de músicas.

Ah, por que carnaval? Por que tão perto de mim? Por que sou obrigada a ouvir isso?




Salvem-me!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Assustei-me. O coração tão logo bateu em disparate. Mas não, não roubaram a moto. Roubaram só o meu sossego, no lugar encontrei uma caixinha cheia de desassossego e incoerências.

Então tá, já que é o que quer, viverei cheia disso. Cheia de não conseguir parar, cheia de não conseguir dormir, cheia de sonhar com coisas vãs que só machucam, cheia de querer um pouco de tranqüilidade.

Maldito segundo de curiosidade que me levou a abrir aquela caixinha, tão bela, laço vermelho, pequena e simples. Deveria saber que nela estava tudo que me incomodava, deveria ter imaginado, deveria ter adivinhado. Não tenho, afinal, essa sensibilidade para adivinhações?

Mas deixa o dia correr e as pernas pararem de bambear por estarem ainda trêmulas. Deixa que as mãos fiquem bem e consigam escrever sem rabiscar. Deixa que a mente retome suas formas naturais para alinhar os pensamentos. Deixa que o coração bata rítmico e silencioso para que a vida possa continuar em paz.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Abri os olhos lentamente. Um raio de sol cegou-me por instantes. Era o primeiro e meus olhos estavam acostumados ao negrume da noite. O céu estava azul, tão, mas tão azul. Ainda sentia a ponta do nariz gelada pelo frio do quarto, mas as mãos já notavam o calor crescente da manhã.

Dia novo. Novo dia de aula (da vida). Novas alegrias, novos sorrisos, novas lágrimas, novas dores e obstáculos, novo céu, novo cheiro. As novidades que acompanham cada alvorecer acabam por marejar meus olhos em lágrimas.

As folhas com brandura dançam a nova dançam do vento, maestro hábil e dedicado. O vento canta, o vento comanda, o vento faz voar, o vento faz sonhar. Chego até a pensar (e quase ter certeza) de que o vento é o próprio mensageiro de Deus. Em sua sutileza o vento vem anunciando aos pequenos e medrosos seres humanos que Deus olha por eles mesmo que eles não olhem mais por Deus.

E assim, na simplicidade do alvorecer termino mais uma prece e começo mais um dia, desses que sabe-se como começam, mas jamais que surpresas (boas ou ruins) aparecerão com o passar das horas até a noite.

Logo, sem que o mundo (inclusive eu) tome conhecimento já será uma nova madrugada e cá estarei novamente frente a mesma tela com a mente fervilhando pensamentos, palavras, idéias. Pouco a pouco esvaziarei minha mente até que ela seja nula de pensamentos, nula de cor, nula de tudo e só exista o que é eterno.

Já dizia Cecília Meireles, querida minha:
O vento do meu espírito
soprou sobre a vida.
E tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu, que és eterno...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Hoje contei os pingos de chuva por puro capricho. Por horas e horas notei o céu cinza que tão logo (e talvez fosse eu que não estivesse prestando atenção) transformou-se em céu azul, com sol amarelo e chuva fina e calma.

Ao iniciar-se essa nova coloração no céu, vi nascer em meu jardim um arco-íris. Não resisti, escalei correndo todo o arco-íris, e ao chegar ao ponto mais alto, escorreguei com as mãos para o alto, fazendo desenhos nas nuvens acima de minha cabeça.

Chegando no final do arco-íris, não encontrei o pote de ouro dos duendes, nem eles eu encontrei. Encontrei um mundo todo feito em nuvens multicoloridas. Lá no alto via-se o sol brilhando e seus raios penetrando cada pedacinho de nuvem com um tom de cor diferente.

Encontrei rosas feitas de nuvens e por muito pouco a curiosidade não me fez destruir algumas ao tentar colhe-las.

Mas o que de mais chocante encontrei foi aquele ser olhando para mim e docemente caminhando em minha direção. CAminhei até ele também. Ao nos encontrarmos nos abraçamos fortemente como quem mata a saudade de um longo tempo separado, deitamos nas nuvens e ficamos olhar a escada em espiral que construía-se até o sol, a visão era maravilhosa, a sensação é de que poderíamos passar o resto de nossas vidas ali, de mãos dadas olhando para o sol.

Porém a alegria não haveria de durar muito. Uma nuvem negra apareceu e acabou em instantes com o lento trabalho da escada em espiral, fechou o sol, tudo escureceu rapidamente. As nuvens onde estávamos deitados se abriram e caímos por muito tempo, tanto que pareceu ser eterno.
Mas tínhamos destino certo - e nem sabíamos -, eu caí de volta à Terra, ele foi-se para um planeta distante.

O destino deixou que nos enamorássemos para depois tirar-nos um do outro com crueldade digna da idade média. E assim desenhou-se a estória trágica, contada por muitos séculos naqueles mesmos desenhos de nuvem e sol que outrora eles dois observavam. Agora estavam separados para sempre.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Fiz um poema pra você. Quente como o raio de sol que me acordou daquele sonho delicioso que tive (com você) naquela noite. O poema não fala sobre o sonho, nem sobre a última vez que lhe vi ou lhe beijei, mas sim, sobre o desejo incontrolável que ficou claro no sonho.

Estranho quando descobrimos através de sonho um desejo escondido ou não declarado. E quão grande é o desejo; desejo da tua carne, da tua pele alva, da tua boca rósea, das tuas palavras nos meus ouvidos, da madrugada esquecendo-nos, de ver o sol nascer deitada nos teus braços.

Mas não vou lhe mostrar o poema, nem o que minha luxúria espera de você. Espero suas palavras iniciais ou terei que esquecer da luxúria, do desejo e do prazer (que ainda não tenho) por enquanto. Apenas creia, não os posso entregar para mais ninguém, são teus e só teus.

Conte-me: gosta de poemas?

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O ano recomeçou cansado de recomeçar. Os mesmos fogos, os mesmos abraços, a mesma chuva, os mesmos desejos, os mesmos encantos, as mesmas tentativas de felicidade.

O ano cansou-se dos mesmos problemas, das mesmas desilusões, dos mesmos (des)amores, das mesmas paixões sem fundamento, dos mesmos sorrisos amarelados, dos mesmos abraços gélidos como a neve, dos mesmos beijos sem carinho, sonhos sem esperança, noites sem companhia, palavras sem cor.

Já não sei mais se foi o ano que cansou-se de mim ou eu dele. Talvez - ao longo dos anos - eu tenha perdido o significado de renovação que tem a passagem de ano. Talvez porque eu me renove diariamente. Talvez porque simbologia não seja minha preferência.

Enfim, brinde de feliz ano novo aos que se renovaram e outro brinde para o mundo que recomeça já cansado.