terça-feira, 22 de novembro de 2011

A crônica de Caramelo

Para Mariana, por ser tão querida e dar a sugestão que acabou nessa crônica.
Para Akira, por ter sido tão importante hoje (e em todos os outros dias meus também), por gostar tanto de cachorros e por me fazer rir.
Para Guilherme e Mirian, por apoiarem a idéia.

Os últimos dias estiveram insuportavelmente quentes. Naqueles cantos, após consecutivos dias quentes, diziam todos que sempre chovia.

E aquele dia era o escolhido para o fim do calor insuportável. Lindamente o céu azul turquesa com seus desenhos-nuvens deram lugar a um cinza de nuvens densas de alívio. O sol brincou de esconder e a meia tarde fez-se escura.

Ela estava agitada naquele dia. Após um dia de extrema lentidão e apatia, de uma noite em que os sonhos mais pareciam roteiros de filmes hollywoodianos, ela acordou animada. Nem parou para almoçar, comeu enquanto conversava sobre trabalho naquela escolinha do campo - tão querida por ela.

Voltou ao local original de trabalho (entenda-se: aquele onde ela tem um cantinho pra chamar de seu) na mesma correria, afinal de contas, alguém esperava por ela.

Pediu desculpas ao senhor - que por ser doce como ele só - prontamente aceitou e atendeu-o o mais rápido possível. A chuva aumentou, o senhor estava de moto, por consequência jogaram conversa fora a mercê da chuva.

Mas havia outro alguém a esperá-la e ela já tinha notado. Ele ficava fitando-a de longe e ela se virava de costas de costas para o senhor e perdia-se naquele par de olhinhos brilhantes.

Não resistiu, comentou com o senhor o encantamento. Ela era assim, se não contava o encantamento, ele lhe transbordava os olhos e todos descobriam de qualquer maneira. Aquele pequeno ser tímido, lá longe sorriu com os olhos.

"Que cachorrinho mais lindo! Parece que está com fome e frio." - soltou no ar parecendo não ligar, mas seu coração há muitos minutos já estava lá com o pequeno ser.

O senhor foi embora assim que a chuva o permitiu. Os corredores estavam vazios. Ela certificou-se disso mais uma vez e notando o vazio dali, correu pegar biscoitos para o novo amigo. Ele animou-se com os biscoitinhos de nata. Ela conversava com palavras, ele respondia com o balançar do rabo e os olhos tão doces. Deu-lhe água e os minutos do seu tempo - que dizem ser tão precioso - e ele retribuiu, seguindo a menina por todos os cantos e olhando com a sinceridade de uma criança que agradece um carinho e uma bala.

As horas passaram, o expediente acabou, era a despedida. Com dor no coração, ela explicou que não poderiam seguir juntos. Ele pareceu não entender. O olhar de abandono cortou o coração dela, mas ela lhe prometeu cuidar e encontrar-lhe um lar, caso ele não tivesse um. E ir visitá-lo sempre que possível. Enquanto isso, ele ficaria ali e seria a alegria dos dias dela.

Alguns dizem que pela cor, ela diz que pela doçura dele, que horas depois decidiu chamá-lo de Caramelo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Esperas

Era uma noite bonita como há tempos não se via. A lua laranja e partida no céu como vergamota que se reparte com os amigos - em gomos - em meio a um negrume qual quarto de dormir quando oferece medo.

A menina olhava tudo com precisão. Nenhum movimento das nuvens era demais aos seus olhos. Nenhum. Mas estava deveras parada, como se o belo céu não  lhe fizesse diferença. Que havia com aquela menina não maravilhada com tamanha beleza?

Ela permanecia imóvel, com seus pensamentos em algum lugar de Saturno. Estava vazia ao mundo, alheia a tudo.

Ela pensava em pessoas distantes e em todo amor que sentia por elas, pensava em belos mundos onde pudesse habitar, pensava em girassóis, em arco-iris, em toda a cor que agora não tinha, pensava em braços que a abraçavam como se a proteção de todos os males fosse essa e mais do que a utopia, pensava em conversas de por-do-sol e de acordar a lua.

Mas alguém muito distante resolveu quebrar-lhe o real. Acabou com as conversas de amanhecer e de adormecer e ela ficou ali a esperar.

E há quem diga que nisso ela perdeu o amor. Há quem diga que ela só perdeu a esperança. Há quem diga que ela perdeu o sonho. Há quem diga que ela nunca mais dormiu. Há quem diga que ela espera uma volta. Há quem diga que ela morreu. Há quem diga que ela perdeu.

Mas há quem diga, que desde então, ela amou mais. E de um jeito tão lindo que outro amor nunca mais chegou. Há quem diga que ela chorou, mas ficou a esperar.