sábado, 31 de julho de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Viagem antropológica

E sem saber invadíamos o território daquela gente que vive diferente da gente. A situação era a mesma dos dois lados da pista de dança imunda e cheirando a mofo, mas elas eram percebidas de maneiras muito diferente pelos personagens.

De um lado, estávamos eu e minha amiga, velhas órfãs do rock e dos barzinhos com gente "esquisita" e das noites de chorinho e bossa nova e das noites no teatro. Ambas sentadas, escoradas na mesa, aquela velha cara de quem está deslocada do mundo, os cabelos já desgrenhados, o cigarro aceso soltando fumaça no ar em forma de desenhos mal definidos, meu copo de plástico com cerveja, o dela com conhaque presidente e coca-cola. Conversávamos sobre coisas quaisquer e fazíamos uma análise da situação, isso depois de muito falar das nossas desilusões amorosas, venturas e desventuras, dos amores de longe e blá blá blá.

Do outro lado, duas meninas também sentadas alegremente conversavam, eram diferentes e isso era notável. As roupas eram diferentes, o sorriso não era amarelo, tinham os copos cheios provavelmente de cerveja (a luz no local era fraca), riam sem preocupar-se com nada, cantavam com a banda, dançavam, mostravam-se para os garotos.

Elas estavam no seu lugar com as suas pessoas, nós éramos duas estranhas no ninho tentando não chamar atenção.

Da viagem antropológica ficou a sensação de que eles vivem melhor do que a gente. Uma coisa ficou mais clara do que nunca: a ignorância é uma dádiva. Quisera eu não preocupar-me com as próximas eleições também, mas para quem saiu da ignorância nunca mais é possível retornar. Fato é que a diversidade é algo que encanta.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Poema do dia

Acordei. Ainda estava frio.
Tomei café. Amargo.
O sol sorriu pra mim.
Senti saudade sua.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

- Então você pode cantar para eu dormir, mas não pode ficar do meu lado enquanto eu durmo? É isso?

- É, faço-lhe dormir com todo amor que tenho, mas assim que pegar no sono, partirei e não sei quando regresso.

- Certo! Ficarei acordada durante toda a noite. Terei os olhos pesados e cansados pela manhã, mas lhe terei ao meu lado.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Livros espalhados por todo o chão do quarto. Infinidade de letras, pensamentos, teorias, amores, guerras e estórias. Apanho um sem nem ao menos ligar para o título. Não é o que eu estava lendo. Leio alguns trechos, nada. Tento outro, poesia. Leio uma estrofe qualquer sem notar que comecei pelo meio do poema. Arrepios, saliva na boca aumentando, mãos trêmulas. Não é o livro, não. É a recordação que ele carrega. Sinto seus poros nos meus dedos, seu cheiro espalhado no meu sexo, sua boca grudada na minha. Fecho os olhos, deliro, calo-me pra sentir sua pele branca na minha. O mundo lá fora já não tem mais tempo, não tem mais cor, não tem mais desejo. Está tudo aqui entre meus dedos e aquelas letras, entre meus sonhos e sua chegada, entre meu desejo e as palavras que sussurra no meu ouvido, entre o amor que lhe dou e o que me retribui, entre o meu desejo e o seu me chamar de sua bitch, entre o sexo até adormecer e o ao acordar, entre a madrugada que passo virando na cama procurando seu cheiro e aquela que você esperou acordado que eu adentrasse a porta. E você está longe. Descubro. Contorço-me, morro de dores sem origem certa, caio no profundo tédio e solidão, mãos gélidas como o vento lá fora, sem calor humano, sem seu calor tão bom, sem seu abraço do meu tamanho.

Uma coisa pra você, meu bem: seu lugar na minha cama ainda está guardado.