quinta-feira, 11 de junho de 2009

(des)encantamentos

Num mundo encantado, eu sou a princesa (des)encantada. Que feliz vive à regar seus girassóis amarelos de tanto esperar. Esperar por um amor que não vem, que não tem, que não se entrega.

Mas que deixa vontade no canto da boca, desejo na pele e arrepios na alma. Um dia, fujo do reino encantado, me jogo no mundo, te pego de jeito. Então, você será meu príncipe encantado, eu serei a sua princesa encantada e viveremos no mundo (des)encantado.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Lembranças espalhadas no jardim, amores espalhados no coração

Espalhei lembranças. Fotos por todo o quintal. Cheiros por todos os céus. Sentimentos escondidos por toda a terra. Sonhos por todo o jardim.


Mas o coração não espalhei. Permanece guardado entre os papéis no quarto. Pois ele só deixo na mão de quem pode cuidar bem dele. E nisso de entregar meu coração à quem pode, nunca tive arrependimentos.


Existem dias em que temos que admitir que os dias felizes ao lado de alguém são só lembranças. Sonhar ter a pessoa de volta é pedir para decepcionar-se. As pessoas mudam e também as conjecturas. Assim o que era lindo e mágico pode ser insípido e indiferente. Só as lembranças não mudam. Continuam felizes como o dia em que as vivemos.


Largo é o sorriso ao recordar-me de pessoas, coisas, céus, cheiros, parques, sorvetes, noites, amores, amizades, dias lentos, cervejas, sorrisos, colos, carinhos no cabelo, ósculos, aventuras intermináveis, viagens imaginárias ou não, planos construídos, vontades imediatas, abraços quentes, filmes chorosos, loucuras, elevadores.


Quantas recordações cabem num só coração? Quantas estrelas mais eu conhecerei? Me alegrarei por isso? Quantas mais pessoas eu chamarei de amor? Quantos mais dias frios serão memoráveis?


Espero que todas as recordações, as estrelas, as alegrias, os amores, os dias frios.

Amores, quero os novos! Não que os velhos não possam-se reciclar e ser novos novamente. O velho que não vira novo, definha. Acaba-se lentamente, vira amizade, vira ódio, vira quase nada. Reciclar amores é revivê-los em seu auge. Reciclar os velhos amores é tê-los novamente, mais fortes, mais quentes, mais amores.


As pessoas viram lembranças no dia em que se tornam monótonas e delas não há mais nada de novo que se descobrir. E é bem nesse ponto que devem virar lembranças para não correrem o risco de serem, então, odiadas e perdidas as boas recordações. Não quero recordações iguais de pessoas que agora são diferentes.


Amizades, quando demais grandes, correm sério risco de transformarem-se em amor. E se isso acontecer? Aproveita-se! As recordações de amigo serão armazenadas, belas e leves e inicia-se um novo amor que terá no futuro novas recordações. Bem assim que deve ser!


Um brinde as recordações. Um brinde aos velhos-novos amores. Um brinde aos amigos-amores. Um brinde a quem não era imaginado e hoje é amor. Um brinde ao amor de longe. Um brinde ao amor que é esperado. Um brinde aos sonhos que somei aos seus. Um brinde e outro brinde.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Quando eu morrer

Quando eu morrer não quero que contem mentiras sobre mim. Não digam que eu era essencialmente boa, pois tinha muito de má, se quiserem digam apenas que eu vivia combatendo a maldade interior; não digam que tinha grandiosa paciência, pois não muito raro ela esgotava-se, mostrando que eu não era uma pessoa paciente; não digam de minha inteligência, pois tê-la e conhecê-la sempre fora meu pecado capital; não publiquem os meus escritos, pois os que me fazia gosto publicar, já os fiz em vida, cada qual em se devido lugar – alguns tiveram apenas um leitor e assim deverão permanecer.

Quando eu morrer, se quiserem lembrar de mim, lembrem com um sorriso; não quero lágrimas, nem pesares de nunca mais. De onde estarei, recordarei-me de doces momentos com vocês e também eu estarei a sorrir.

Se quiserem levar algo meu depois da minha morte, levem bons momentos, bons exemplos e boas influências. Esqueçam, por obséquio, as más influências, momentos e exemplos errôneos que meu espírito, ainda tão imperfeito e errante, lhes proporcionou. Estarei bem ao vê-los concertar erros que lhes ensinei como cometer.

Além disso, quando eu morrer quero preces sinceras, saudades também sinceras e sorrisos, pois, de onde estarei sentirei saudades sorrindo e farei preces de conforto e sincero amor pra vocês.

Quando eu morrer não coloquem pedras preciosas nem ouros no meu túmulo. Os bens monetários já os tive em vida e os evitei em extremo, fugindo arduamente da avareza; não preocupem-se com beleza para meu túmulo, quero apenas simplicidade; não façam dividas terrenas para um lugar que espero habitar por tão pouco tempo; se quiserem realmente me agradar, plantem um girassol ou alguma árvore que dê frutas perto da minha sepultura. Ao menos, meu corpo terá uma última função antes da extinção, além dos que porventura por ali passarem – a me “visitar” ou por acaso – possam deliciar-se com saborosas pitangas, jabuticabas ou amoras e terão ao deleite de seus olhos um belo girassol em reverência ao astro-rei por lhe manter vivo.

No meu epitáfio escrevam algo breve e não tentem dizer quem eu era; fui tantas e tantas ainda serei, não prendam-me a Danieli apenas. Se algum querido meu doar-se a fazer meu epitáfio, deixem-no responsável pela função, pois nenhum querido meu falharia nesta tarefa.

Quando eu morrer, fiquem serenos e perpetuem o amor; se eu for antes é para preparar melhor a casa eterna para esperar vossas chegadas.

Quando eu morrer, que todos os que amo, todos os meus queridos, sintam-se beijados e abraçados longamente em breve despedida.

Madrugada de 01/06/09