sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ele sempre bate na minha porta. Finjo que não estou, desligo tudo, fico muda, mal respiro para fingir estar longe, mas ele espera. Eu fico me escondendo o máximo de tempo, mas a insistência dele é maior que a minha paciência para fugas e esconderijos.

Abro a porta. Ele ainda tem os mesmos olhos caídos de que me lembro, a face marcada pelo tempo sem perder entretanto a juventude de ser sarcástico, as mãos amareladas e trêmulas que firmam-se ao apertar as minhas.

Ali, parado na minha porta ele me olha com um sorriso de "sabia que você estava aí, sabia que abriria, você não resiste a mim". Vendo esse sorriso fervo de ira, mas o coração bate mais e mais alegre e descompassado. A razão não gosta dele, a emoção ama-o fervorosamente.

Eu já estou impaciente de vê-lo ali sem entrar. Ele não entra, espera, a paciência é sua mais notável qualidade (deve ser pelo tempo que tem). Abro mais a porta e lhe digo:

- Entra passado, já sabe onde é a sala. Sente-se lá que já levo o chá.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Não vou decorar frases feitas pra te reinventar. Do jeito que existe em mim é como permanecerá para todo o sempre.

Como uma primeira brisa de outono, assim é a recordação que guardo. E sabe-se que os ventos - desde os mais leves até os mais tempestuosos - são meus mensageiros confiáveis e fiéis.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Viu? O céu estava lindo do tamanho do seu sorriso esta noite.





Dormirei contanto estrelas.

Já que não tenho seu sorriso.

domingo, 18 de abril de 2010

- Você é o que sobrou do céu?
- O céu acabou, então?
- É, acho que dele só ficou você.
- O céu não acabou e nem eu sou o que sobrou dele.
- Mas você é o céu pra mim ou qualquer coisa divina.
- Eu sou teu céu.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ele sempre chegava com o mesmo sorriso instantâneo. Por muitas vezes cheguei a crer que ele ensaiava o sorriso demoradamente na frente do espelho. Era perfeito aquele sorriso, era igual sempre, era como olhar pra fotografia.

Trazia consigo os olhos perdidos que tão logo me viam e encontravam-se. Seus olhos eram perdidos do mundo, mas encontravam-se nos meus e na minha pele e no meu cabelo e no meu cheiro. Os meus só brilhavam e perdiam-se (ao contrário dos dele) nele.

O abraço era o mais quente de todas as estações. Aconchegante, do meu tamanho, da minha vontade, do tempo que não contávamos quando estávamos abraçados. As mãos, de tão leves e sorrateiras, mal notava-se e já estavam a brincar com os cabelos ou acariciar a nuca.

Do beijo que ele tinha, do beijo que era tão meu e tão nosso e tão perfeitamente do tamanho dos nossos desejos, só conto-lhes que era pra esquecer do céu lá fora e contar a população mundial em dois apenas.

Das horas na cama, dos suspiros, da falta de fôlego, dos dedos, do sexo, dos cabelos, da barba, do suor, da saliva, de deitar no seu colo e não pensar em nada ainda ofegante, do caminho até ficarmos ofegantes, das tatuagens, do banho morno, do fim, do recomeço, da sua luxúria tão minha; não há mais o que comentar, apenas digo, sinto arrepios consumindo meu corpo enquanto escrevo este.

Do colo, de conversar, das horas de saliva gastas em conversas, da orelha quente no telefone, dos filmes, das saídas para seu remédio, das madrugadas com 32 horas de duração, da saudade, da cumplicidade, das festas, da sinuca, da parceria, da cerveja, da timidez, do início de tudo; fica uma vontade de voltar no tempo extraordinária.

Revivendo ele assim e como ele chegava e como ele (me) era chego a apenas uma conclusão: ele é perfeito demais pra existir.

Quem dera saber desde sempre que foste delírio meu. Entretanto, não há prazer maior do que ter lhe inventado (deveras o fiz?)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

As pessoas tem verdadeiro fascínio em banalizar as coisas. Até o amor já está banalizado. A maior dor de todas é ver que o amor já é tratado como coisa qualquer, pode até ser comprado caso você seja mais abastado.

As pessoas nunca entenderam de amor, vivem confundindo o amor com essas paixões cheias de carne.

O amor não é assim. O amor é eterno. O amor é leve e belo. O amor é a melhor sensação que há. O amor é puro. O amor é divino. O amor é iluminado e nada tem do desejo da carne efêmero.

Por isso entenda, se lhe disser que te amo é pra sempre e é fato, porque o meu amor não foi banalizado.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Das lembranças que o frio traz, separei as melhores. Separei os beijos em lábios trêmulos, separei os poemas, separei as músicas pra sonhar, separei fumaças de cigarro e café.

Das lembranças indesejáveis, fiz o cálice onde coloquei meu vinho, junto dele bebi teu sorriso e o meu prazer em vê-lo sorrindo.