Pediu para eu olhar e eu fiz. Abri os ouvidos e não pude ver nada
do que me falava. Então abri todos os poros da pele e continuei sem ver o que
era que me falava. Tentei, não diga que fui má e não tentei ver, porém a sua realidade
não é a minha. Seus olhos estão longe demais de enxergar o que eu vejo. E talvez
a sua realidade seja mais bonita (ou a minha). Queria ver a sua, queria saber
se o que todos veem é o que diz – porque se for assim sou anormal -, mas se não
for, então a anormal é você.
Enquanto você falava das coisas que eu deveria ver – mas não
vejo – viajei por outras terras mais férteis e bonitas. Onde a teoria fosse
meio desnecessária e o que valia a pena era só a experiência. Quem disse que é
mais bonito a teoria cheia de nomes de pessoas que nunca vi do que as minhas
pequenas lembranças do que há de bonito na vivência?
Vivência, aliás, é uma palavra bonita. Junto com prática e
experiência, são palavras bonitas na teoria. Mas quem disse que de teoria
se faz o mundo? Deus lá escreveu um livro ou citou meia dúzia de nomes com palavras
bonitas antes da prática? Aprecio a teoria - sim, eu leio artigos e também sei citar meia dúzia de nomes bonitos -, mas o eu vivo é quem eu sou. E a pergunta final é: da teoria fez-se a prática ou foi da prática que fez-se a teoria?