segunda-feira, 24 de maio de 2010

A sensação é toda estranha. Há aquela leveza acompanhada de uma dor profunda, tão profunda que nem sei em que parte do coração é formada e disseminada. Os olhos permanecem marejados de lágrimas o tempo todo e ao menor descuido do pensamento, elas escorrem sem vergonha alguma. O corpo todo está amolecido, os dedos tremem, as pernas não conseguem firmar-se, o pensamento esquece-se em qualquer esquina - sem querer pensar em nada, nada.

Só uma oração acalma tudo, só assim vem o descarrego de consciência de que é a melhor coisa a ser feita no momento (e não é a melhor coisa a ser feita em todos os momentos?).

O coração se enche de luz e tenho a certeza de que a luz que produzo, por menor que seja, chegará até você e lhe será caminho na escuridão do esquecimento (porque desconhecido não é) e lhe será confortado o coração e poderá permanecer em paz a olhar por nós.

Guardarei seu último sorriso e suas últimas palavras. Ah, estava tão linda e tão serena. Ali, em seu leito parecia não tomar conhecimento da terrível doença que lhe acometia e consumia pouco a pouco as vísceras e a vida corpórea. Com toda a dor, com toda a fome, com toda a sede (nada mais poderia ser feito quando descoberto), trazia a face serena e um sorriso frouxo de criança. De criança que brinca e não tem preocupações.

Partiu em serenidade e assim há de permanecer. Não vi, nem faço questão de ter as lembranças do seu corpo já sem vida, seu espírito - que não era daqui - voltou alegremente para o lar, com a certeza de missão cumprida.

Segue o teu caminho na paz daquele que é nosso Pai. Leve minha oração consigo e boas lembranças. Até um dia.

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