sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ele sempre chegava com o mesmo sorriso instantâneo. Por muitas vezes cheguei a crer que ele ensaiava o sorriso demoradamente na frente do espelho. Era perfeito aquele sorriso, era igual sempre, era como olhar pra fotografia.

Trazia consigo os olhos perdidos que tão logo me viam e encontravam-se. Seus olhos eram perdidos do mundo, mas encontravam-se nos meus e na minha pele e no meu cabelo e no meu cheiro. Os meus só brilhavam e perdiam-se (ao contrário dos dele) nele.

O abraço era o mais quente de todas as estações. Aconchegante, do meu tamanho, da minha vontade, do tempo que não contávamos quando estávamos abraçados. As mãos, de tão leves e sorrateiras, mal notava-se e já estavam a brincar com os cabelos ou acariciar a nuca.

Do beijo que ele tinha, do beijo que era tão meu e tão nosso e tão perfeitamente do tamanho dos nossos desejos, só conto-lhes que era pra esquecer do céu lá fora e contar a população mundial em dois apenas.

Das horas na cama, dos suspiros, da falta de fôlego, dos dedos, do sexo, dos cabelos, da barba, do suor, da saliva, de deitar no seu colo e não pensar em nada ainda ofegante, do caminho até ficarmos ofegantes, das tatuagens, do banho morno, do fim, do recomeço, da sua luxúria tão minha; não há mais o que comentar, apenas digo, sinto arrepios consumindo meu corpo enquanto escrevo este.

Do colo, de conversar, das horas de saliva gastas em conversas, da orelha quente no telefone, dos filmes, das saídas para seu remédio, das madrugadas com 32 horas de duração, da saudade, da cumplicidade, das festas, da sinuca, da parceria, da cerveja, da timidez, do início de tudo; fica uma vontade de voltar no tempo extraordinária.

Revivendo ele assim e como ele chegava e como ele (me) era chego a apenas uma conclusão: ele é perfeito demais pra existir.

Quem dera saber desde sempre que foste delírio meu. Entretanto, não há prazer maior do que ter lhe inventado (deveras o fiz?)

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