sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ele sempre bate na minha porta. Finjo que não estou, desligo tudo, fico muda, mal respiro para fingir estar longe, mas ele espera. Eu fico me escondendo o máximo de tempo, mas a insistência dele é maior que a minha paciência para fugas e esconderijos.

Abro a porta. Ele ainda tem os mesmos olhos caídos de que me lembro, a face marcada pelo tempo sem perder entretanto a juventude de ser sarcástico, as mãos amareladas e trêmulas que firmam-se ao apertar as minhas.

Ali, parado na minha porta ele me olha com um sorriso de "sabia que você estava aí, sabia que abriria, você não resiste a mim". Vendo esse sorriso fervo de ira, mas o coração bate mais e mais alegre e descompassado. A razão não gosta dele, a emoção ama-o fervorosamente.

Eu já estou impaciente de vê-lo ali sem entrar. Ele não entra, espera, a paciência é sua mais notável qualidade (deve ser pelo tempo que tem). Abro mais a porta e lhe digo:

- Entra passado, já sabe onde é a sala. Sente-se lá que já levo o chá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário