segunda-feira, 26 de julho de 2010

Viagem antropológica

E sem saber invadíamos o território daquela gente que vive diferente da gente. A situação era a mesma dos dois lados da pista de dança imunda e cheirando a mofo, mas elas eram percebidas de maneiras muito diferente pelos personagens.

De um lado, estávamos eu e minha amiga, velhas órfãs do rock e dos barzinhos com gente "esquisita" e das noites de chorinho e bossa nova e das noites no teatro. Ambas sentadas, escoradas na mesa, aquela velha cara de quem está deslocada do mundo, os cabelos já desgrenhados, o cigarro aceso soltando fumaça no ar em forma de desenhos mal definidos, meu copo de plástico com cerveja, o dela com conhaque presidente e coca-cola. Conversávamos sobre coisas quaisquer e fazíamos uma análise da situação, isso depois de muito falar das nossas desilusões amorosas, venturas e desventuras, dos amores de longe e blá blá blá.

Do outro lado, duas meninas também sentadas alegremente conversavam, eram diferentes e isso era notável. As roupas eram diferentes, o sorriso não era amarelo, tinham os copos cheios provavelmente de cerveja (a luz no local era fraca), riam sem preocupar-se com nada, cantavam com a banda, dançavam, mostravam-se para os garotos.

Elas estavam no seu lugar com as suas pessoas, nós éramos duas estranhas no ninho tentando não chamar atenção.

Da viagem antropológica ficou a sensação de que eles vivem melhor do que a gente. Uma coisa ficou mais clara do que nunca: a ignorância é uma dádiva. Quisera eu não preocupar-me com as próximas eleições também, mas para quem saiu da ignorância nunca mais é possível retornar. Fato é que a diversidade é algo que encanta.

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