Vazio existencial. O relógio já/ainda marca quatro da tarde,
àquela hora comprida em que eu nunca sei se torço pro relógio correr ou parar. Noto
que há muito tempo balanço o pé, mordo a tampa de uma caneta – a boca já secou
-, é a velha procura de soluções em gestos naturais e bobos. É mecânico, bem
como é mecânico o ato de olhar para a tela do computador esperando que as
fórmulas se completem, que as soluções brotem...
O café já está frio. Minha casa deve estar quente já que o
sol teima em bater na porta do quarto a tarde toda. E não sei onde o vazio
existencial é maior: aqui ou lá. Lá posso ver um filme, ler um livro, dormir...
aqui eu posso fingir que sou uma pessoa completa planejando grandes coisas que
pra mim, atualmente, tanto fazem.
O relógio e a maneira sádica como me prende em suas
engrenagens que eu nem sei como funcionam. Sou totalmente controlada por
ponteiros dourados, prateados, finos, grossos, brilhantes... pela posição deles
que não faziam o menor sentido na infância. Digam pra mim, por que é que tem
que fazer algum sentido agora?
Aprisiono-me dentro de mim querendo apenas algumas horas longe (de mim). Eu sou mais complexa que o relógio que me aprisionou e a preguiça disso às vezes é maior. Entre o tédio e a agonia, vasculho qualquer coisa e leio uma notícia sobre clonagem humana. Mas era só o que me faltava, ter mais uma de mim! Quase um sorriso, o vazio quase não vai embora. Como a gente espanta essas dúvidas que parecem insetos na cabeça? Dúvidas de que, afinal?
Dúvida se a hora passa devagar ou rápida. Dúvida se a hora
deveria passar rápida ou devagar. Dúvida se é melhor controlar o tempo ou se
deixar levar de vez por suas engrenagens barulhentas.
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