quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Do fim

Ela fez as malas. Desfez os sonhos deles. Largou o sorriso largo em cima da cama. Escorreu as lágrimas até a porta. Levou o cheiro dele no cabelo desarrumado. Lentamente abriu a porta. Não olhou pra trás. Não olhou para os lados. Não olhou. Fechou os olhos e suspirou. Partiu como quem nunca volta - porque nunca chegou deveras.

Ele olhou a cena atentamente. Quis correr, mas os pés estavam imóveis. Quis abraçá-la, mas os braços não alcançavam. Acendeu um cigarro e observou. Olhou os cabelos nas costas dela desgrenhados. A blusa desarrumada, colocada às pressas. Sentiu que a ponta do cigarro aceso queimava-lhe o coração. Sentiu pena. Sentiu dor. Sentiu nojo de si mesmo.

Ela saiu andando lentamente. Trazia o coração dilacerado no peito. Não pensou. Quisera nunca ter amado. Pensou em acabar com a vida. Sentou-se num bar. Bebeu. Chorou como criança que perdeu-se dos pais no circo. Paralizou-se de medo da vida sem ele. Mas não ía voltar. Nunca.

Ele observou a porta sendo fechada. Observou o vazio que tomou a casa de repente. Sentou-se no chão. Acariciou o pêlo do cachorro com desdém. Pensou em sair pra procurá-la. Desistiu em seguida. Sentou-se no chão. Chorou por horas. O coração tinha a dor mais lancinante que já havia sentido. Não ía mais amar. Nunca.

E isso não era uma maldição jogada sobre os dois. Era apenas orgulho de ambos. E o amor, assim, definhará aos poucos, até nunca mais existir.

2 comentários:

  1. Esse orgulho machuca qualquer relação de fato. Digo isso, porque já protagonizei cenas que me lembraram muito essa que você soube descrever tão bem. Em nome de um ego que não se acaba, perde-se as coisas mais sublimes dessa vida... como entender?

    Parabéns, Srta Danieli/adorela, virei fã. =]

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  2. Um carteiro me pediu pra te avisar que adora poesias humanas e sagradas.

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